Circulou nessa segunda-feira, 9 de março, uma ilustração alusiva ao Dia Internacional da Mulher, celebrado, como se sabe, todo 8 de Março. Até então seria uma arte habitual, enviada no ambiente institucional de um órgão público. 

O que mais chama atenção no material, porém, é que, na representação da única mulher negra da imagem, ela aparenta ter, no lugar de mãos, patas de um animal quadrúpede: um cavalo, vaca, mula, ou de qualquer espécie, mas jamais algo parecido com mãos humanas. 

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Reprodução da primeira ilustração divulgada pelo INSS, com destaque para as patas (clique para ampliar)

"Esclarecer a confusão"
Uma servidora do INSS, revoltada com a representação chula e imperdoável justamente na intenção de celebrar as mulheres e sua diversidade, reportou o assunto diretamente ao remetente da mensagem: a Assessoria de Comunicação Social do instituto. Vale ressaltar que esta divulgação ocorre em um momento de grande assédio institucional por parte da gestão do INSS sobre os(as) servidores(as). 

O responsável afirmou que a estagiária usou uma imagem "aleatória" e afirmou, à guisa de justificativa, que a estagiária é negra, para "esclarecer (grifo nosso) a confusão". 

Com a repercussão ruim da ilustração, com direito a uma chuva de críticas à forma inoportuna e ultrajante com que foi conduzida, a mesma foi alterada, e uma mão humana foi inserida na representação da mulher negra. 

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Após a repercussão da imagem anterior, o INSS sequer se manifestou, apenas alterando a ilustração (clique para ampliar) 

O que para a assessoria de comunicação do INSS foi "apenas uma confusão", para a Fenasps e mulheres trabalhadoras da autarquia foi uma ofensa racial, machista e absolutamente reprovável. 

Para a Fenasps, há pelo menos dois erros crassos neste episódio. Primeiro, uma mensagem de cunho feminista não poderia nunca suscitar interpretações contra a sua própria intenção. Além disso, uma mulher negra com uma ‘pata de vaca’ no lugar de mãos não pode sequer ser analisada como uma homenagem, especialmente considerando o Brasil um país profundamente marcado pelo patriarcalismo e com um histórico de três séculos de escravidão negra. 

Em segundo lugar, não é admissível a ausência de um(a) servidor(a) responsável por supervisionar a estagiária e seu o conteúdo de sua produção. Esta não deverá arcar com o ônus de uma falha que é de todo o setor da comunicação da autarquia.

Racismo, além de inaceitável, é crime

Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, qualquer alusão (mesmo 'involuntária', como no caso Alvim) ou exibição de símbolos nazistas em território alemão, fora do contexto educacional ou artístico, por exemplo, é considerado crime segundo o código penal do país. No Brasil, ainda que racismo seja igualmente crime, conforme dispõe a Lei n° 7.716, de 1989, essas tentativas ainda são socialmente aceitas mesmo que diante de ‘desculpas’ pouco convincentes. 

Por esses e outros motivos, a Fenasps não se furtará a criticar todas as tentativas de objetificação ou inferiorização das mulheres, e de animalização e humilhação do negro e da negra, sejam explícitas ou veladas. 

Não deixaremos este episódio passar batido! A Fenasps já encaminhou ofício à gestão do INSS solicitando a apuração dos fatos e uma retratação pública, mas sua ação não se resumirá nisso! A federação buscará, inclusive pelos meios judiciais, a reparação e culpa da instituição neste lamentável caso. Por fim, a Fenasps enfatiza novamente que a assessoria de comunicação não pode culpabilizar a estagiária por omissão da supervisão de suas atividades por um servidor, conforme prevê a lei!

MACHISTAS E RACISTAS NÃO PASSARÃO!

Fonte: Fenasps